História
História de Caetanópolis/MG
Publicado em 23/05/2016 14:40 - Atualizado em 31/05/2016 20:29
Cidade jovem, Caetanópolis, posiciona-se a uma altitude de 720 metros. O povoado, de nome Cedro, surgiu a mais de um século.
Na Zona Metalúrgica, fica a 96 quilômetros de Belo Horizonte. A Companhia de Fiação e Tecelagem Cedro e Cachoeira, principal indústria da cidade, é centenária e pioneira no gênero em Minas Gerais.
O município, com área de 154 quilômetros quadrados, tem o nome de coronel Caetano Mascarenhas, idealizador da primeira fábrica mineira de tecidos. Desde o seu surgimento como povoado, em meados do séc.XIX, sua história esteve ligada à da Companhia de Fiação e Tecelagem Cedro e Cachoeira, pioneira da indústria têxtil em Minas.
Anteriormente denominado Cedro, quando se emancipou, em 1953, teve seu nome mudado para Caetanópolis, em homenagem a um dos fundadores da Companhia.
A grande atração da cidade é um dos mais interessantes museus da indústria têxtil do país, que recebe visitantes do Brasil e, até mesmo, do exterior.
Os primeiros moradores de Caetanópolis
Os primeiros moradores de Caetanópolis foram os construtores da fábrica, os operários, os escravos. Depois , com a fábrica em funcionamento, vieram mais famílias, comerciantes, professoras, etc.
As primeiras casas foram construídas ao redor da fábrica. Eram feitas de adobe e cedidas às pessoas.
Durante algum tempo, a fábrica de tecidos constituiu a principal fonte de renda. Aos poucos foram chegando as casas comerciais. O agronegócio também se tornou forte, pois havia diversas fazendas na região.
De um modo geral, os primeiros habitantes de Caetanópolis foram pessoas simples e humildes, instaladas no município em virtude da fábrica de tecidos.
CONTANDO NOSSA HISTÓRIA
Texto: Adriana Andrade
A história de Caetanópolis está ligada a história de uma família: a família Mascarenhas. Em 1778 houve o registro do primeiro Mascarenhas no Brasil, com a chegada ao Rio de Janeiro do imigrante português Antônio Gonçalves Mascarenhas, de 16 anos.
Depois da morte de seus pais, Antônio resolve aventurar-se por terras brasileiras. Era filho único e trouxe pouco dinheiro depois de ter vendido propriedades em Portugal.
Seu primeiro emprego foi com o tropeiro José, que conheceu numa estalagem no Rio de Janeiro. Durante as viagens, a amizade com o patrão foi crescendo, e Antonio se tornou o homem de confiança dele.
Numa das viagens por Minas Gerais, encontraram uma velha índia muito doente. A índia tentava dizer-lhes algo que eles não conseguiram entender, senão com o coração. Ela estava já em estado terminal e pedia que tomassem conta de uma criança, uma indiazinha que estava perto sem nada compreender. Eles então pegaram a menina e levaram com eles.
Passando por um arraial, procuraram o padre e contaram o acontecido. O padre sugeriu que eles a batizassem. Era dia de São Joaquim, e a Igreja do arraial era de Nossa Senhora da Conceição. A indiazinha foi então batizada de: Joaquina Maria da Conceição. Passou a fazer parte das viagens. Aos poucos, foi deixando de ser uma selvagem para ser uma pessoa dócil e trabalhadora.
Antônio e Joaquina se casam
Com idade bastante avançada, José decidiu não ser mais tropeiro e passou sua tropa para Antônio, o homem de sua confiança. Ao falecer, pouco tempo depois, deixou a casa na corte para Antônio, que considerava como filho.
Antônio passou a trabalhar com as próprias tropas, e Joaquina sempre o acompanhava. Os dois se casaram em 1792, quando ele contava 30 anos.
Antônio continuou o trabalho de tropeiro. Levava para o interior do Brasil o sal e o azeite; trazia o toucinho e o açúcar.
Em 1808 chega ao Brasil a Família Real Portuguesa.
Os filhos, a morte
Antonio e Joaquina tiveram três filhos: José, Caetano e, em 1804, Antônio Gonçalves da Silva Mascarenhas. Em 1811, Antônio Gonçalves tinha seus 7 anos, quando o pai resolveu levar toda a família para uma viagem.
Na serra da Mantiqueira, o pai e a mãe contraíram a doença conhecida como “bexiga” (varíola) e faleceram. Os escravos, alegando que iam comprar ferramentas para o enterro dos corpos, pegaram todo o dinheiro das crianças e fugiram, deixando as três crianças ali no caminho, sozinhas. José com 13 anos, Caetano com 10 e Antonio Gonçalves com 7. Abandonados na Serra, os três foram recolhidos por outros tropeiros que passaram por ali e os levaram para a fazenda Ponte Seca.
Caetano seguiu viagem com esses tropeiros e nunca mais se ouviu falar dele; José , que era o mais velho, ficou algum tempo na fazenda e depois também seguiu viagem com tropeiros. Ficou apenas o Antônio, que morou ali por três anos e depois foi levado para a fazenda Vereda, em Caetés, de seu padrinho José Teixeira (Visconde de Caeté).
Nessa fazenda, ele aprendeu a ler, escrever, e também aprendeu a profissão de caldeireiro (fazia ferramentas). Certo tempo depois, não quis mais ficar na fazenda do padrinho. Saiu, então, trabalhando nas fazendas como caldeireiro, até que, em 1821, chegou à fazenda de Capim Branco, de Apolinário Ferreira Pinto.
Casou-se com Policena Moreira da Silva em 1824, recebendo como dote 2 escravas (Quitéria e Simplícia) .
Mudou-se para Tabuleiro Grande (hoje Paraopeba), onde montou um armazém. O lugar era ponto estratégico, caminho para o sertão. Na época, era ele era quem dominava o comércio do sal. Por isso se tornou muito rico.
Começaram a nascer os filhos de Antônio Gonçalves e Policena: Antônio Cândido, Antonino, José, Escolástica, Custódia, Francisca.
Em 1836 , comprou a fazenda “atrás dos Altos” que ficava a quatro léguas do Tabuleiro Grande. Mudou-se para essa fazenda em 20/01/1836 (dia de São Sebastião), dando-lhe então o nome do santo do dia. Nessa fazenda nasceram os outros filhos: Victor, Pacífico, Caetano, Bernardo, Maria Teodora, Sebastião, Francisco.
Os filhos de Antônio Gonçalves estudaram nos melhores colégios da época: Caraça, colégio de Macaúbas, colégios do Rio de Janeiro.
Victor e Pacífico foram para a corte estudar Medicina.
Antônio Gonçalves resolveu dividir a herança entre os filhos, e cada um recebeu 26 contos de réis. Os filhos homens receberiam suas partes depois dos 18 anos; as mulheres, depois do casamento.
Já se podia observar a inteligência de Bernardo, com suas invenções e as ideias bem à frente do tempo e de todos.
Bernardo e Caetano foram comerciantes em Curvelo. Depois desistiram e voltaram para a fazenda. Bernardo, numa visita aos irmãos que moravam na corte, leu, num jornal, a notícia de que a Inglaterra estava com falta de algodão para suas fábricas. Daí a ideia de uma fábrica de tecidos aqui no Brasil.
Inicialmente, pensou em criar a fábrica em Juiz de Fora. Para isso adquiriu a fazenda de Mariano Procópio, que tinha tudo necessário: lá havia uma queda d’água e o local era próximo da corte, etc...
Mas para criar a fábrica, do jeito que ele queria, ele precisava de muito dinheiro. Procurou o irmão Caetano, que concordou, mas ainda faltava mais dinheiro. Tentaram com outros irmãos, que acharam loucura, até que chegaram ao irmão mais velho, Antônio Cândido. Este concordou com a ideia, desde que a fábrica fosse construída aqui mesmo.
– Mas aqui? Em pleno sertão e longe da corte?
Foi a condição de Antonio Cândido.
Não tendo outra saída, concordaram.
Era preciso que houvesse uma queda d’água, ou uma correnteza. Chegaram então à fazenda da Ponte, de Maurício Gonçalves Simões, e a compraram para esse fim.
Iniciou-se aí, em 1868, a construção da fábrica. Foram feitos estudos, projetos para começar a construção de um açude, um desvio do curso da água (rego), galpões, casas para operários... Enfim, começava a se realizar um sonho... Ousado... De muita coragem.
Bernardo então deixa as obras por conta de seus irmãos Caetano e Antônio, parte para a compra das máquinas, o que exigia muita responsabilidade. Afinal, era o capital de 150 contos de réis.
Quando a dúvida vinha, Bernardo escrevia aos irmãos, dizendo o que pretendia. Daqui, os dois enviavam cartas, confirmando a confiança nele. Fizesse o que julgasse melhor.
Bernardo comprou as máquinas, que vieram dos Estados Unidos, e chegaram ao Brasil, no porto do Rio de Janeiro, em abril de 1871.
Para Minas Gerais, a estrada de ferro era somente até Juiz de Fora. Resultado: mais de 250 toneladas transportadas em carros de boi, de Juiz de Fora até o Cedro, no interior de Minas.
Um carro de boi, normalmente, carrega de 80 a 100 arrobas, isto é, 1.200 a 1.500 quilos. Seriam, portanto, necessários cerca de 200 carros de boi comuns para levar até o Cedro... Imaginem quantos bois, quantos carreiros, quantos homens e quantos dias foram necessários para que chegasse até aqui aquela estranha caravana.
E à frente vinha um pequeno grande homem, Bernardo, com apenas 21 anos de idade, trazendo seu sonho... e a certeza que valeria a pena todo aquele esforço. E ele tinha coragem.... teimosia.... e muita vontade de fazer algo para prosperar...
Chegaram ao Cedro em setembro de 1871.
Em 22 de fevereiro de 1872, chegaram dos Estados Unidos os montadores do maquinário.
Dia 12/08/1872- tudo pronto: açude, rego, bicame, roda d’água, máquinas montadas, edifício pronto... Estava pronta a Fábrica de Tecidos do Cedro.
O algodão era cultivado no vale do Rio das Velhas, entregue cru, sem limpar, na porta da fábrica, pelos camponeses.
A primeira peça de tecidos fabricada aqui, enviou-a Bernardo para seus pais, na Fazenda São Sebastião. O Velho Mascarenhas ficou tão emocionado, que veio aqui pessoalmente para agradecer... e abraçou seus filhos, dizendo: “Vocês venceram, meus rapazes!”
A partir daí, a fábrica foi crescendo, a produção foi aumentando...
Vieram moradores para o Cedro.
Em 1886 já funcionavam 223 teares, e Bernardo resolveu mudar-se para Juiz de Fora, onde instalou também uma fábrica de tecidos. Depois fez uma viagem ao exterior. Ao regressar, instalou em Juiz de Fora a primeira Usina Hidrelétrica da América do Sul. Foi, portanto, Juiz de Fora a primeira cidade a ter luz elétrica ...
Bernardo faleceu em 9 de outubro de 1899, aos 52 anos de idade.
Em 12 de janeiro de 1884, aos 82 anos, havia falecido o Velho Mascarenhas, Antonio Gonçalves, e em 22 de janeiro de 1900, aos 89 anos, faleceu Dona Policena.
Os primórdios da cidade
Os primórdios de nossa cidade estão intimamente ligados à família Mascarenhas, pois foi com ela que a nossa história começou, a partir do nascimento da fábrica.
Na época da Guerra do Paraguai, na 1ª e 2ª grandes guerras mundiais, e em vários outros períodos, a fábrica enfrentou enormes dificuldades, mas sempre sobreviveu.
Nossa primeira escola funcionou dentro da fábrica. Só depois foi construída a Escola Coronel Caetano.
Em janeiro de 1911, criou-se o Clube Recreativo Cedrense, com o objetivo de realizar saraus dançantes, e com boa biblioteca. Começou então a construção de um prédio, onde funcionou esse clube por muitos anos e que mais tarde passou a ser cinema e teatro. Ali funcionou também a COBAL (Cia. Brasileira de Alimentação). Atualmente, o prédio abriga a Casa de Cultura Clara Nunes.
No dia 21 de abril de 1912, foi lançada a pedra fundamental da capela de Santo Antônio.
Em 1917, foi fundado o Campo de Futebol.
Em 1936, o Dr. Guilherme, recebendo um presente, um cheque de 100 contos de réis da tia Catarina, construiu o nosso hospital.
A emancipação
Por volta dos anos 40, chega ao Cedro o Padre Chaves, que foi quem teve a ideia da emancipação político-administrativa de Caetanópolis. Ele achava que havia muita dificuldade em tudo pertencer a Paraopeba. Até nossos mortos eram enterrados lá. Então ele construiu o cemitério e lançou a campanha emancipacionista.
Foram várias tentativas frustradas. Padre Chaves decidiu conversar com José Dalle, político da região. Este procurou o deputado Emílio de Vasconcelos Costa, para que levasse a proposta à Assembléia, como líder da maioria. Vasconcelos Costa concordou em ajudar, mas seria necessário o consentimento da Cedro. Houve muita resistência. Achavam que não seria viável. Após diversas reuniões, rebatidos todos os argumentos da diretoria da Cedro, o projeto de emancipação foi aceito em 12 de dezembro de 1953, instalando-se o novo município em 1º de janeiro de 1954.
No dia da instalação, houve grande festa, e receberíamos o nosso Intendente (homem que iria governar, organizar a Prefeitura até a eleição). Ele chegou aqui tão alcoolizado, que entrou em coma alcoólico. Era o Sr. Raul Lisboa, que teve de ser substituído pelo Dr. Salomão. Este ficou pouco tempo e nada fez. O Intendente Marinho Nicácio foi quem organizou a Prefeitura. E a Prefeitura funcionou na pensão do Ildeu Moura até a eleição.
Nossa primeira eleição teve apenas dois candidatos: Antonio Joaquim e José Dalle. Tínhamos 820 eleitores, e Antonio Joaquim foi eleito com 513 votos.
O Cedro era um distrito de Paraopeba, e com a emancipação tivemos que trocar o nome de Cedro, pois já existia outro Cedro no estado do Ceará. Então o Dr. Guilherme sugeriu homenagear Caetano, um dos fundadores da Fábrica do Cedro, e os políticos da época aceitaram a sugestão.
por Comunicação